sábado, 26 de setembro de 2009

Branqueamento Político

Há eleições amanhã. É verdade que penso que de pouco valem e que a solução mais adequada para a raça humana é a extinção, mas votar é um direito do qual, por princípio, não abro mão. À falta de melhor sistema político do que aquele que temos - a democracia, com todas as suas qualidades e perversões - apenas me resta participar e tentar, tanto quanto possível, sentir-me satisfeito com isso.

Agora uma breve análise. Quais são as opções que se nos apresentam?

Temos um primeiro ministro a recandidatar-se, com a popularidade tocada, que foi eleito uma primeira vez não por ser sinónimo de esperança ou competência mas antes por ter sido considerado pelo eleitorado como o menor dos males à disposição.

Temos como principal opositor uma versão portuguesa da Margaret Thatcher, de discurso firme, austero, pretensiosamente lógico e inabalável, que se limita a aproveitar-se da actual conjuntura para constatar o óbvio.

Temos uma nova esquerda ambígua e indefinida que ainda não sabe bem se quer ou não ser poder mas que, pelo sim, pelo não, lá se vai colocando a jeito.

Temos uma caquéctica direita conservadora que só se vai safando por ter como líder um gajo com lábia e muita cara de pau.

E temos a esquerda clássica que se comporta de forma sempre previsível e igual a si própria, acima da política e da realidade, e ainda convencida de que o inevitável futuro da humanidade passa por si.

Para além disto, resta-nos o MRPP, que é uma versão mais zangada destes últimos, e umas quantas organizações de empresários, betos, beatos, tachistas, académicos e populistas que não levam a política a bem a sério.

Atentemos agora nos dois potenciais candidatos a PM.

Sócrates foi um ministro pop. Beneficiou do chamado estado de graça da era Guterres, ganhou popularidade e protagonismo por ter a seu cargo uma pasta que deixou obra pública visível. Boa ou má, não interessa. No seu percurso até ao topo não conseguiu desembaraçar-se de um ou outro momento menos encantador no seu trajecto, trazendo agarradas a si tenebrosas raízes de duas das piores características da portugalidade: o patobravismo e a chico-esperteza. É um estigma pesado e aparentemente justificado mas uma vez que o português, culturalmente, demonstra apreciar e apoiar tais comportamentos, ainda não consegui perceber bem se tal estigma não será antes um ponto a favor.

Ferreira Leite foi uma má ministra da educação, no governo firme e intransigente de Cavaco, e uma medíocre ministra das finanças, no governo tímido e sem ideias de Durão, mas sempre teve uma auréola de rigor e competência a pairar-lhe sobre a cabeça. Auréola essa que facilmente impressiona o português enrascado e sem opções, saudoso de tempos (que na realidade nunca existiram) em que Portugal presumivelmente andava na ordem.

Em que ficamos então? Que decidir? Complicado? Não, fácil: denunciemos o actual estado de coisas com votos em branco. Que sejam aos largos milhares, para que se perceba que estas opções, esta ilusão de opção, não serve.

A abstenção também não serve. Significa negligência e indiferença, é entregar o país aos ratos e às baratas. O voto em branco, por outro lado, significa que não gostamos deles. Que os temos debaixo de olho e que, em última instância, somos sempre nós quem tem o poder de os escolher. Ou não.

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