quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Joana Amaral Dias

Sim, é a propósito da sua aparição na medíocre versão portuguesa do Daily Show. Em primeiro lugar, qual a real pertinência do convite? Que posição de relevo, aparte dos implantes mamários, terá, no actual enredo político-social, Joana Amaral Dias para merecer o destaque? Em segundo lugar: terei sido eu o único a notar no deslumbramento pateta que tanto o entrevistador como a entrevistada foram incapazes de ocultar durante a conversa. Foi demasiado confrangedor. Parecia um engate entre duas personagens pseudo-cosmopolitas num bar a condizer no Bairro Alto. Ele, a lançar a piadola bazófia, incapaz de desviar por muito tempo o olhar das protuberâncias silicónicas da interlocutora; ela, a tremer de nervo juvenil, atrapalhada e a tentar responder à letra para não se deixar ficar. Só faltavam as vodkas laranja. Que espectáculo deplorável.

Joana Amaral Dias. Estaremos nós a presenciar o nascimento de um novo fenómeno da portugalidade? Uma espécie de namoradinha de Portugal versão intelectual? Nunca tivemos nada do género por cá. Uma bonequita saltitante hiper-talentosa a lançar charme sobre a facção séria do país. Uma espécie de filha de detentor de cargo directivo na RTP mas, neste caso, susceptível de ser motivo de discussão no Diário Económico e na Quadratura do Círculo.

Vou ser acusado de machismo. Pouco me importa, sou frequentemente acusado de coisas que não sou. O que me causa asco aqui é o preconceito. A ideia de a aparência de alguém condicionar o julgamento acerca das suas capacidades.

A verdade é que a totalidade dos homens portugueses com mais de três neurónios, assim como uma percentagem substancial das mulheres, estão neste momento apaixonados por Joana Amaral Dias, eu incluido. Mas o problema aqui é a questão do preconceito - é o facto de tratar-se de um flirt ilusório, não estamos apaixonados por um objecto de afecto real, somente pela projecção daquilo que todos nós desejamos ver. É, na verdade, uma alucinação colectiva.

Todos os homens sentem tesão por uma mulher bonita, elegante (neste caso os implantes são entendidos como sofisticação urbana, não como provincianismo tolo e pretensioso), bem sucedida e intelectualmente capaz. E mesmo que tudo isto não corresponda à realidade, a nossa vontade de que isso não seja mera ilusão, a nossa vontade de acreditar ser possível haver uma Joana Amaral Dias, acabará por torná-la real. Joana Amaral Dias ainda não existe - somos nós que a estamos a realizar. Ninguém, no fundo está apaixonado por Joana Amaral Dias, apenas pela ideia de Joana Amaral Dias - por um preconceito. Todos os defeitos e inconsistências serão sublimemente negligenciados e tomados como secundários, pois o amor é cego e, afinal de contas, Joana Amaral Dias terá de ser Joana Amaral Dias.

É a questão do preconceito a tempo inteiro, só que desta vez o alvo desse preconceito sai largamente beneficiado pelo facto de ser uma gaja boa.

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