quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O miserável Nobel

Estranhei bastante quando Muhammad Yunus ganhou o Nobel da paz. Havia ali qualquer coisa de estranho que simplesmente não encaixava... um banqueiro a receber um Nobel?! Da paz?! Parecia-me algo completamente incompatível, para não dizer surrealista ou cómico. Mas nunca me dei ao trabalho de investigar o assunto e decidi acreditar e tomar como verdadeira a boa vontade do homem. O projecto, à partida, até nem soava mal: tentar gerar riqueza onde ela não existe nem tem grande oportunidade de começar a existir.

Confesso que o assunto do micro-crédito nos países em vias de desenvolvimento nunca mais me incomodou até há dias ter visto um documentário que me mostrou uma realidade completamente diferente e num estilo bem mais aproximado daquele que reconhecemos ser o procedimento habitual da banca.

Pois bem, em primeiro lugar, a taxa de juro: entre 25 e 30% e, tal como aqui, os angariadores de clientes são hábeis a propagandear os sorrisos e as facilidades e as histórias de sucesso, como forma de iludir e aliciar quem quer que lhes apareça pela frente, indiscriminadamente. Como se isto, só, já não bastasse para querer esbofetear o homem das boas intenções até ao vómito, têm começado a surgir, como naturalmente seria de esperar, situações dramáticas de famílias que agora, para além de pobres, estão enterradas em dívidas. Casais que, de negócio ruinoso em negócio ruinoso, acabam por se suicidar após contraírem o sétimo ou oitavo crédito. As dívidas sobram para quem resta vivo e os senhores da cobrança aparecem a qualquer altura com a sua subtileza habitual, incluindo nos funerais dos devedores para ter uma conversa com os familiares.

Temos agora as províncias mais pobres do planeta exactamente com os mesmos problemas subprime das sociedades ocidentais, graças ao Grameen Bank.

Como é que se dá um Nobel da paz a um filho da puta destes?

O atrofio da espécie II

...ainda sobre o atrofio da espécie, há também quem invista com convicção e tente fazer negócio com a estupidificação da face feminina da mesma.

Em análise os mais recentes cartazes da publicação feminina juvenil Happy Woman, a mesma que, nos seus cartazes de apresentação há uns anos atrás, se auto-promovia com um erro de ortografia.

A publicação pretende comunicar uma imagem rebelde, sexy, independente, cosmopolita, feminista, emancipada, moderna, consciente, etc., com slogans que, das duas uma, ou revelam enorme aptidão para a estupidez ou uma preocupante pretensão de estupidificar.

"Gosto de dormir nua. E depois?"
Esta afirmação e esta pergunta surgem do nada. É verdade que algum universo masculino poderá perder algum tempo a fantasiar com adolescentes nuas mas isso já acontece normalmente. Trata-se de uma estratégia de marketing mal pensada dado que essa clientela procurará outras fontes, mais especializadas e directas ao assunto, para fantasiar, nunca a Happy Woman. O slogan expõe também uma necessidade histérica de afirmação, que faz sentido, dado o carácter adolescente da revista, notando-se especialmente um desejo de provocar choque, de agitar as águas, o problema é falhar completamente o objectivo. Gostas de dormir nua. E depois? Ainda bem para ti. Eu por acaso também durmo nu, conheço outras pessoas que o fazem, a minha mulher, por exemplo. Também conheço pessoas que gostam de churros, e depois? Estás em Portugal, não estás no Irão, podes até dormir metida numa burka que ninguém se chateia com isso.

"Não tenho religião. E depois?"
Só agora é que perceberam que as aulas de religião e moral são um franchise dissimulado com o patrocínio do Vaticano para tomar o pulso aos jovens e tentar cristianizar umas ovelhas? Ludwig Feuerbach, teólogo, antropólogo, filósofo, desmascarou os fenómenos da religiosidade e reapresentou-lo-nos como meras fantasias ficcionais para o indivíduo se explicar a si próprio, ou para usar como ferramenta de controle do próximo, há quase cento e setenta anos. E antes dele outros pensaram e morreram sobre o assunto. Não tens religião. E depois? Estás em Portugal em 2010, não estás numa comunidade Mórmon no Utah há cem anos atrás, quem é que se chateia com isso? ...mas do mal o menos, antes tarde do que nunca.

"Não gosto de política. E depois?"
Ok, agora sim, sinto-me insultado. Temos aqui uma publicação presumivelmente rebelde, sexy, independente, cosmopolita, feminista, emancipada, moderna, consciente, etc., a tentar vender a ideia de que gostar-se de política é uma caretice, uma tendência em desuso, uma desnecessidade, e fá-lo com o orgulho desprezível da adolescência. O único slogan que apresentam capaz de produzir alguma coisa tem como objectivo alienar e desligar as miúdas da realidade. No tempo do Salazar havia a Crónica Feminina, que ensinava as raparigas a coser, a cozinhar e a focarem-se nas coisas realmente importantes, nomeadamente: a viverem para os maridos e a servirem-se de alicerce para a família. Trinta e cinco anos depois temos a Happy Woman a ensinar as miúdas a enfeitarem-se, a fazer broches e a focarem-se nas coisas realmente importantes, nomeadamente: a deixarem a tomada de decisões exclusivamente para os homens e a concentrarem-se em tornar-se nos seus objectos de adorno.

Nada contra os broches mas... ninguém se chateia com isto?

sábado, 9 de janeiro de 2010

O atrofio da espécie

Li há dias uma notícia que me quase me fez saltar os olhos das órbitas de incredulidade. Uma sondagem a publicitar de forma alarmista que uma percentagem significativa de crianças não usa capacete enquanto anda de bicicleta, acompanhada da reacção furiosa de uma associação de pais a dizer que o não uso de capacete deveria ser considerado como "uma espécie de mau trato" por parte dos progenitores.

Mas o que é que se passa? De onde saiu este clube de invertebrados que se sente obrigado a opinar desta forma? E já agora, porquê quererem tratar as nossas crianças como florzinhas de estufa, tornando-as mais estúpidas, mais fracas, mais limitadas e mais desligadas da realidade? Esta gente não vai descansar enquanto cada lancil de cada passeio não estiver almofadado, por forma a suprimir todo e qualquer efeito nefasto que a força gravitacional possa infligir às criancinhas. Proteger: sim - educar: não. É esta estirpe de gente que retira as pastilhas elásticas do Epá e as substitui por outras, mais pequenas e seguras, sem açúcar. Preferem enfiar adoçantes sintéticos para o cérebro dos putos a ensiná-los a mastigar e a lavar os dentes.

Era enfiar uma bomba pelo cu acima de cada um destes personagens de ficção científica.