quinta-feira, 21 de maio de 2009

Tomás, não mexa nisso! Sim, Isabel...

Tenho reparado num fenómeno estuprador de inteligência nos últimos tempos. Pais que não perdem uma ocasião para falar dos seus filhotes pequenos, tratando-os, repetidaemente, pelos nomes próprios. Ai o Tomás isto, a Carolina aquilo, a Francisca aqueloutro. Falamos de crianças que ainda não falam sequer, na melhor das hipóteses, já andam mal... PAREM COM ESSA MERDA! Já nem estou a contar com as tradicionais famílias de bem, aqueles (des)agregados familiares que mal interagem entre si no dia-a-dia e que se tratam por você e pelos nomes próprios, quando não pelos apelidos (no caso dos enredados matrimoniais mais complexos e multipolares).

Estou a mencionar esta nova vaga de pequenos-burgueses com formação universitária que, assim de um momento para o outro, começaram a sentir este deslumbramento ontológico-metafísico-teleológico sobre o fenómeno da paternidade, em que tratar-se um filho por filho já não é suficiente - é, sim, necessário evocar em voz alta, tantas vezes quanto possível, o objecto da criação pelo nome seleccionado - invariavelmente um nome de uma celebridade ou de um personagem na obra de uma celebridade. Nomes de família são a segunda opção. A palavra filho é apenas uma ideia, é uma coisa vaga, geral, pode ser o de qualquer um, susceptível de se diluir na totalidade do real, é pouco - o meu Tomás, por outro lado, é propriedade privada, patente registada, é um triunfo da minha individualidade, é a minha contribuição para o universo, sou eu, Deus criador feito homem, a propagar a minha semente, que é reflexo de mim próprio.

Esta gente urbana de hoje com umbigos inchados e a mania das grandezas...

Duas palavrinhas para vocês: Pró caralho!

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