Tenho reparado num fenómeno estuprador de inteligência nos últimos tempos. Pais que não perdem uma ocasião para falar dos seus filhotes pequenos, tratando-os, repetidaemente, pelos nomes próprios. Ai o Tomás isto, a Carolina aquilo, a Francisca aqueloutro. Falamos de crianças que ainda não falam sequer, na melhor das hipóteses, já andam mal... PAREM COM ESSA MERDA! Já nem estou a contar com as tradicionais famílias de bem, aqueles (des)agregados familiares que mal interagem entre si no dia-a-dia e que se tratam por você e pelos nomes próprios, quando não pelos apelidos (no caso dos enredados matrimoniais mais complexos e multipolares).
Estou a mencionar esta nova vaga de pequenos-burgueses com formação universitária que, assim de um momento para o outro, começaram a sentir este deslumbramento ontológico-metafísico-teleológico sobre o fenómeno da paternidade, em que tratar-se um filho por filho já não é suficiente - é, sim, necessário evocar em voz alta, tantas vezes quanto possível, o objecto da criação pelo nome seleccionado - invariavelmente um nome de uma celebridade ou de um personagem na obra de uma celebridade. Nomes de família são a segunda opção. A palavra filho é apenas uma ideia, é uma coisa vaga, geral, pode ser o de qualquer um, susceptível de se diluir na totalidade do real, é pouco - o meu Tomás, por outro lado, é propriedade privada, patente registada, é um triunfo da minha individualidade, é a minha contribuição para o universo, sou eu, Deus criador feito homem, a propagar a minha semente, que é reflexo de mim próprio.
Esta gente urbana de hoje com umbigos inchados e a mania das grandezas...
Duas palavrinhas para vocês: Pró caralho!
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