quinta-feira, 21 de maio de 2009

Logo-idiotices

O meu respeito e consideração pelas pessoas do marketing e publicidade é muito reduzido, no entanto trata-se de um mundo que me fascina, sempre pelas piores razões.

A Pepsi, eterna número dois do mundo dos refrigerantes, tem tentado ao longo dos tempos reformular a sua imagem e os seus logótipos por forma a tentar roubar um pouco da enorme fatia de mercado pertencente ao grupo Coca-Cola. Recentemente houve novo facelift que está agora a ser implementado. No entanto, a única coisa que está a conseguir fazer é a pôr em jogo seu prestígio centenário, acreditando erradamente que os resultados aparecerão através da apresentação de novos logótipos absolutamente atrozes, dispersos e sem sentido. De acordo com a marca:

"The white band in the middle of the logo will now loosely form a series of smiles. A “smilewill characterize brand Pepsi, while a “grin” is used for Diet Pepsi and a “laugh” is used for Pepsi Max."

Ou seja (e decerto que me compreenderão melhor quando virem o resultado), estão a teorizar absurdamente e a tentar reapresentar um produto com história como se houvesse realmente a urgência e a necessidade de o reinventar e de transformá-lo numa coisa nova. Na verdade o que estão a fazer é a empobrecê-lo e a desbaratá-lo como se de um produto passageiro se tratasse - a pertinência gráfica da nova imagem está no mesmo patamar de produtos medíocres e sazonais sem qualquer tipo de ambição a longo-prazo, igualando, por exemplo, a do novo detergente-budget Surf, que, da noite para o dia, ocupou os horários nobres das televisões e a totalidade dos cartazes da rede de metropolitano de Lisboa e que daqui a cinco anos será um episódio obscuro e perfeitamente secundário no universo dos detergentes.

Os criativos e a gente do marketing da Pepsi esquecem-se de uma coisa elementar: porque é que as pessoas tem marcas como a Mercedes ou a BMW em boa conta e (no caso de terem dinheiro, claro) se fidelizam a elas e as consomem sem sequer as pôr em causa? - porque são marcas que apresentam produtos de qualidade reconhecida e fazem questão de impôr uma imagem sólida, coerente e intemporal. Tomando em conta a psicologia do consumidor: um logo que se aguenta durante décadas acaba por ser sinónimo de liderança, solidez, estabilidade, história, know-how, experiência, resistência ao tempo e às tendências, para além, claro, de gerar uma relação de familiaridade com quem consome, etc, etc, etc. A Coca-Cola, por exemplo (e era aqui que eu queria chegar, não aos fabricantes alemães de automóveis), parece perceber do assunto, sendo muito perspicaz e subtil de cada vez que remoderniza a sua imagem - a verdade é que com maior ou menor espalhafato circunstancial, o logo da marca permanece imaculadamente inalterado. A Fiat, recentemente, ao perceber isto, regressou ao logo do início do século passado e recomeçou por aí - já a Lância, marca do mesmo grupo, está a ir no sentido inverso e começou a desvirtuar o logo que orgulhosamente ostentou durante largas décadas.

A imagem das marcas está, cada vez mais e salvo raras excepções, entregue a criativos borbulhentos e designers académicos, sem respeito pelas marcas que representam, que se limitam a operarar exercícios de estilo idiotas alicerçados em argumentação absurda, desnecessária e extraterrestre.

Mais chocante ainda é o facto de o grupo Pepsi ter no seu catálogo de produtos um para o qual deveria olhar mais atentamente e tomá-lo como referência: 7-Up.

Não vos ocorreu, minha cambada de idiotas?

1 comentário:

  1. Estou a conhecer este blog poer ter lido um comment num outro blog qualquer. Até agora estou a gostar pelo que será mais um dos que contribuem para a minha fraude continuada no meu emprego.

    De resto, há muito que tenho como certo que a maior parte dos publicitários andou a comer Nestum Merda durante grande parte da infância, por isso nada de novo na frente oriental. :)

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