quinta-feira, 28 de maio de 2009

Quente e frio

Porque é que os Santamaria são considerados pirosos e a Katy Perry não? A gaja canta pior, a música é quase tão má e as letras são igualmente estúpidas. No entanto os primeiros são avaliados como uns pimbas-techno-chunga provenientes da European West Coast e a segunda é a nova grande revelação atrevida da MTV.

Analisemos o mais recente hit-single, Hot n' Cold:

You're hot then you're cold
You're yes then you're no
You're in then you're out
You're up then you're down
You're wrong when it's right
It's black and it's white
We fight, we break up
We kiss, we make up

É provável que não tenha sido ela a escrever (ainda que a rima de up com up levante a suspeita do contrário), mas isso não interessa para nada - o bom intérprete é aquele que interpreta emocional e expressivamente o que lhe chega às mãos - autenticidade! - é fundamental um isomorfismo entre quem escreve e quem canta - resumindo: Katy Perry teve direito de opção, sendo dessa forma cúmplice e, consequentemente, culpada por isto.

Queixa-se do namorado. Que é um indeciso, que tem humores flutuantes, alguém invadido pela angústia e pela dúvida, um inquieto, um desassossegado com a consciência de que o mundo não é uma sucessão de fenómenos a preto e branco. Admitindo que o namorado figurativo de Katy não é um idiota (sim, é um salto ambicioso, eu sei, mas mais tarde vão dar-me razão), a conclusão a que poderemos chegar é a de que se trata de uma pessoa perfeitamente normal, às voltas com as ingratas contingências da condição humana. Os últimos dois mil anos da nossa História são férteis em pessoas que escreveram livros e canções sobre o assunto, que pintaram, que filosofaram, que se exprimiram ou, por outro lado, que sofreram em segredo, que se mataram.

Katy Perry não se matou. Prefere antes entrar em negação, colocando-se adolescentemente numa posição revoltada contra... o humano. E depois parte para o insulto gratuito, enxovalhando o pobre rapaz da forma mais selvagem, descontrolada e implacável: porque muda de ideias como uma rapariga muda de traje, porque sofre de síndrome pré-menstrual, porque é uma puta histérica, porque não serve, porque é uma pilha impotente, porque antes era tontinho por rir por tudo e por nada e porque agora é um chato, porque é maníaco-depressivo... enfim, apenas em dois versos da canção somos capazes de recolher informação positivamente não acessória sobre o perfil da criatura - e é precisamente nestas duas linhas que se descobre afinal que o rapaz pensa demasiado e é bem falante!

And you over think
Always speak cryptically

Mau... ora aqui estava um twist de que não estávamos (eu estava, claro), à espera!

Katy Perry: vai pró caralho!

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